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Desigualdade no Rio de Unicórnios!

O conceito de unicórnio surgiu de uma narrativa despretensiosa, mas que gerou bastante discussão desde então. Um efeito não esperado e positivo foi que o termo se tornou uma referência para estudos como proxy para casos de sucesso no setor de venture capital. Na formatação da nossa base analítica, temos interesse em entender melhor esse fenômeno, para detalhar sua fundamentação e extrair insights, como melhores práticas e taxas base para nossas investidas.
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Desigualdade no Rio de Unicórnios!
Desigualdade no Rio de Unicórnios!

No longínquo ano de 1997, seis famílias de regiões e ramos tecnológicos diferentes, se encontraram por acaso em um florido vale do Reino de Startuplândia, conhecido por seu sistema descentralizado de controle. Decidiram fundar uma cidade, e escolheram o nome de Rio de Unicórnios, em homenagem à cidade mais bonita do mundo, o Rio de Janeiro.

Com o tempo, a cidade foi se desenvolvendo a partir do sucesso das famílias, realçando a beleza do local, e começou a atrair forasteiros de todos os tipos. Foi uma corrida ao ouro desde então, uma bagunça. De maneira espontânea e aleatória, contrariando o histórico de descentralização, o rei de Startuplândia, Elon Bezos 3º, percebeu que teria que estabelecer um critério para organizar o fluxo migratório, e perguntou em 2013 para a sua general, Aileen Lee, o que fazer. Ela, do alto da sua sabedoria, sugeriu que qualquer família que quisesse morar no Rio de Unicórnios teria que ter, no mínimo, USD1Bn de post-money valuation reportado no centro de estatísticas do reino, Crunchbase PRO. Assim conseguiria manter um mínimo de qualidade para atrair a elite mundial que vai continuar se desenvolvendo a partir da riqueza e conhecimentos já gerados ao longo dos anos, além de uma referência de sucesso para estudos posteriores.

Rio de Unicórnios continuou sua escalada exponencial, atraindo curiosidade de outras cidades, reinos e até universos. Um desses sistemas, o Reino de Tupiniquim, tinha uma família que a partir de perspectivas diversas, ciência e arte, conhecimentos distintos, chamada de Astella Investimentos, decidiu olhar mais no detalhe os dados do Rio de Unicórnios para tentar extrair insights…

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O conceito de unicórnio surgiu de uma narrativa despretensiosa, mas que gerou bastante discussão desde então. Um efeito não esperado e positivo foi que o termo se tornou uma referência para estudos como proxy para casos de sucesso no setor de venture capital. Na formatação da nossa base analítica, temos interesse em entender melhor esse fenômeno, para detalhar sua fundamentação e extrair insights, como melhores práticas e taxas base para nossas investidas. Para isso, tomamos algumas medidas para facilitar os debates iniciais:

  • Valuation: continua sendo post-money valuation igual ou maior que USD1Bn, porém somente considerando startups que eram privadas quando reportadas no Crunchbase PRO;
  • Cohorts: é uma maneira de você formar grupos para analisar os dados de maneira agregada. Explicaremos como agrupamos os cohorts para cada gráfico a seguir;

- Descrição do processo: pensamos em analisar se essas startups seguem a dinâmica de lei de potência do setor de venture capital (poucos casos desproporcionalmente mais impactantes que o resto do grupo), quais rodadas (frequência), além de quanto tempo e dinheiro todos eles levaram para atingir o status reportado na fonte do Crunchbase PRO. Pensamos que dessa maneira seria mais rica a analise, ao invés de somente tirar uma foto dos unicórnios atuais.

Vamos aos dados das 967 startups encontrados no Rio de Unicórnios.

Lei de potência

Cohorts: não tem, simplesmente usamos os dados de cada um dos unicórnios para o gráfico acima. Notar que não listamos todos os 967 no eixo x, mas os dados de todos foram considerados.

Assim como acontece no setor de venture capital a nível de regiões, países, cidades, startups, a própria tropa de elite tem uma distribuição de lei de potência considerando o pre-money valuation no ano que alcançou o status. Essa distribuição persiste para inúmeras outras variáveis do setor, sendo uma característica importante dada a possibilidade de existência de dimensões que são invariantes em relação às escalas (por isso temos as mesmas fotos de unicórnios no gráfico acima, mas com tamanhos diferentes), sendo super úteis para qualificar o crescimento das startups.

Frequência

Cohorts: agrupamos por rodadas de captação nas quais os unicórnios receberam o status. Por exemplo, no gráfico acima, 64 das 967 startups conseguiram atingir o carimbo do Rio de Unicórnios na rodada de Série A.

As rodadas C,D,E concentram 57% do número de unicórnios encontrados, e, surpreendentemente, 51% do capital levantado e do Pre-Money valuation. Em outras palavras, seria como se tivesse um momento mais “otimizado” para atingir o status durante essas rodadas. Passando dessa etapa, o processo não teria sido tão eficiente dado a média da tropa de elite considerando o resto todo igual.

Tempo para se tornar unicórnio por ano de fundação

Cohorts: agrupamos por ano de fundação das startups. Exemplo do gráfico acima: a mediana de tempo das 7 startups fundadas em 1998 foi de 19,90 para conseguir o carimbo do Rio de Unicórnios.

A mediana histórica da base toda foi de 6,14 anos de tempo necessário para se tornar unicórnio desde o ano da fundação. Incrível como essa métrica de tempo caiu drasticamente desde o primeiro cohort de 1997: de 15 anos para menos de 1 ano seria uma queda de aproximadamente 94%, isso representa 11,46% de queda composta média anual! Vale notar que o cohort com mais unicórnios foi o de 2012: naquele ano foram fundadas 103 empresas com mediana de 6,58 anos para conseguir esse status ‘mitológico’.

Capital levantado para se tornar unicórnio por ano de fundação

Cohorts: agrupamos por ano de fundação das startups. Exemplo do gráfico acima: 7 startups fundadas em 1998 levantaram e reportaram, em média, US$346M para conseguir o carimbo do Rio de Unicórnios.

Já em termos reais (ajustado por inflação americana no período), temos uma estabilidade do capital levantado para se tornar unicórnio. Separamos as colunas por cores, para indicar melhores (verdes), normais (azul) e piores (vermelho) cohorts em termos de quanto de capital foi necessário para o status. Essa parte está ligada aos nossos estudos do princípio #2 dos Fundamentos: A Física da Velocidade e Eficiência do Crescimento.

Como podemos atestar, existe muita desigualdade e dispersão até na tropa de elite. Era de se esperar, dado o nível de incerteza que envolve o setor de venture capital. Vale ressaltar que o status de unicórnio serve como proxy de sucesso, não sabemos efetivamente se serão bons investimentos, para quem e quando. Da filosofia que trabalhamos na Astella, buscamos entender a questão dos fundamentos em termos de receita gerada, unit economics, diluição, liquidez, riscos contratuais etc…, e não somente uma marcação de post-money valuation que pode ser derivada de princípios questionáveis. Por isso, seguiremos na batalha para desvendar mais segredos do setor e sua respectiva tropa de elite, as famílias do Rio de Unicórnios, sobre a lente transparente dos dados!

Cassio Azevedo

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Cassio Azevedo

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