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Gestoras de Venture Capital são como bandas de rock

Na adolescência meu sonho era seguir a carreira de músico. Aos dezenove, cheguei a conclusão que aquele modo de viver não era para mim e acabei seguindo outro caminho. Meu sócio Edson também tinha o mesmo sonho, foi mais hábil que eu, e se mandou para um MBA na Universidade de Columbia. O resto é história.
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Gestoras de Venture Capital são como bandas de rock
Gestoras de Venture Capital são como bandas de rock

The Police — Live @Le Vélodrome 2008


Na adolescência meu sonho era seguir a carreira de músico. Aos dezenove, cheguei a conclusão que aquele modo de viver não era para mim e acabei seguindo outro caminho.

Meu sócio Edson também tinha o mesmo sonho, foi mais hábil que eu, e se mandou para um MBA na Universidade de Columbia. O resto é história.

Talvez por isso seja normal que na Astella a gente sempre utilize referências do mundo da música. Um negócio que tem inúmeros paralelos na relação do Venture Capital com as startups: A grande quantidade de novos artistas que surgem todos os dias, a baixa taxa de graduação daqueles que avançam para conquistar uma audiência gigantesca, uma distribuição 80/20 na quantidade de artistas vs. receita gerada, o círculo virtuoso em torno dos principais produtores de cada geração e assim vai. Para quem quiser se aprofundar no assunto, recomendo o brilhante Rocknomics.

Só nunca tinha feito a associação de que as gestoras de V.C. são como bandas de rock, até que o Marcelo Ferreira, mencionou isso em nosso podcast.

Para ele a Astella se fosse uma banda, seria o The Police. Como baixista, não poderia ficar mais feliz 😃.

Uma banda é antes de mais nada uma união de um grupo de pessoas em torno de uma concepção comum da arte e do mundo. Uma comunhão de diferentes em torno de um "zeitgeist".

Grandes bandas são feitas de pessoas diferentes. Page & Plant & Jones & Bonham, Morrissey & Marr, Michael Stipe & Peter Buck, Ralf Hüter & Florian Schneider, Jagger & Richards, Lennon & McCartney & Harrison & Starr, Sting & Copeland & Summers… a lista é longa.

Bandas com membros muito parecidos tendem a durar pouco, se auto destruir, ou produzir poucos hits. São One Hit Wonders.

Bandas são emaranhados de relações humanas, casamentos de 3, 4, 5 ou até mais pessoas.

Bandas de sucesso estão correlacionadas com geografias. É mais fácil ser um músico de country se você estiver em Nashville, é mais provável você conquistar um lugar ao sol no mundo do rock se estiver em Los Angeles ou se for Indie Rock em Londres. Não que um artista não possa explodir e construir uma carreira de nível global de qualquer lugar, só a probabilidade que é menor. Bem menor.

Bandas precisam de sucessos para se manterem produtivas e relevantes. Um sucesso não garante outro no futuro. Mas sem hits, sem banda.

Bandas precisam de outras bandas. Para tocarem juntas em festivais, para explorar parcerias e crescer, para compor novas músicas, ou simplesmente para se divertir.

Bandas precisam ter foco. Artistas que tentaram dividir a carreira entre a música e outras atividades no mundo das artes normalmente ficam parecendo o Sting no filme Dune.

Sting como Feyd-Rautha Harkonnen | Dune (1984).

Interessante notar que o mundo do hip-hop produz mais artistas que convivem bem a carreira musical com atividades empresariais.

Jay-Z = Controlador da ROC Nation, Dr. Dre = criador da Beats.

O duo de música eletrônica Chaismokers segue nessa linha e anunciou o seu próprio fundo de V.C., o Mantis.

Nem todos os músicos em bandas são super hábeis tecnicamente, veja o exemplo dos Ramones. Só que isso é meia verdade. Sai tocando as mesmas músicas com 3 acordes um ano inteiro que você fica bom nelas. Fora que a platéia não quer saber se você toca mil notas por segundo, e sim se suas músicas são boas.

Grandes artistas precisam se cercar de gente boa, porque as demandas são enormes e ninguém faz tudo sozinho, mas no final são eles que precisam ter convicção no que colocam em seus repertórios.

Michael Jackson trabalhava com o mega produtor Quincy Jones quando compôs Billie Jean.

Jones não gostava da clássica introdução de teclados, detestava a linha de baixo e insistiu para ela não entrar no album Thriller. Sabemos no que deu.

Grandes bandas são times estáveis, que se mantém juntos ao longo de uma longa jornada. Mudanças acontecem: os Rolling Stones já tiveram Brian Jones e Mick Taylor antes de Ron Wood na guitarra, o Van Halen trocou David Lee Roth por Sammy Hagar no vocal, os Chili Peppers já trocaram o guitarrista umas 5 ou 6 vezes e se mantiveram espetaculares. Um novo membro pode significar um novo momento, melhor e mais vibrante na carreira.

E tem o Deep Purple, que já teve umas 10 formações diferentes, trocando absolutamente todos os membros em algum estágio da longa trajetória desde 1968, sobrevivendo inclusive ao falecimento ou a saída dos fundadores Jon Lord e Ritchie Blackmore.

No Venture Capital, Sequoia, Kleiner Perkins e Benchmark são exemplos de sucesso na transição de uma geração de lideres para outra, onde a marca e o trabalho do time ficam tão fortes que dão suporte à mudança de geração. Claro, o novo time precisa se provar, mas os exemplos acima mostram que se bem conduzido o processo tende a funcionar.

Bandas tem líderes carismáticos. São a imagem mais frequente. Mas raramente o artista em carreira solo supera a banda. Freddie Mercury nunca funcionou sozinho, os discos do Mick Jagger são mornos, e a carreira dos Beatles separados embora tenha produzido belíssimas obras, não chega aos pés do impacto dos quatro juntos.

E acima de tudo: Bandas precisam se preocupar com a performance. Consistência show após show, disco após disco.

Então talvez o meu sonho de adolescente tenha sido materializado, não com notas musicais, mas ao lado de sócios que como eu querem buscar, apoiar e investir nos empreendedores de tecnologia dispostos a transformar a trajetória do Brasil.

Porque uma gestora de Venture Capital é como uma banda de rock.

CODA:

Da adolescência para cá toquei em toneladas de bandas cover, fui sócio de estúdio, produzi um dos mais reconhecidos canais dedicados a música autoral brasileira ao lado do meu amigo Luiz Fernando com o AudioArena Originals, gravei 3 EPs com o Jules, e agora de vez em quando componho alguma coisa sem muita pretensão com o Matheus no XCOPY.

No meio do caminho deu para casar, construir uma família, empreender em 2 agências de comunicação ao lado de sócios incríveis, e quando pivotei a minha carreira para o mundo do Venture Capital depois dos 40, acabei vindo parar no The Police do Venture Capital ao lado dos meus bandmates Edson, Laura e Sato.

Para quem aos 16 achava que se pudesse tocar toda sexta num boteco dos Jardins já era razoável.

Até que não tá mal.

Daniel Chalfon

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Daniel Chalfon

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