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Mesmo sem ser CPG, você ainda precisa posicionar seu produto na prateleira ideal

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Mesmo sem ser CPG, você ainda precisa posicionar seu produto na prateleira ideal
Mesmo sem ser CPG, você ainda precisa posicionar seu produto na prateleira ideal

Este texto foi publicado originalmente na minha newsletter Venture Pathways, um espaço no qual compartilho ideias e aprendizados com base no que tenho lido e refletido.


Não, esse artigo não é sobre supermercado, mas sim sobre a importância de definir a sua categoria e ter um posicionamento claro para que seu cliente consiga te encontrar e escolher.

No Brasil, posicionamento ainda é visto como algo abstrato e nem sempre é endereçado pelos founders. Esse artigo foi construído à quatro mãos junto com a Guta Tolmasquim 💜, CEO da Purple Metrics, recém investida da Astella e será dividido em uma série de duas partes onde vamos explorar o lado teórico e prático da relevância do tema e como fazê-lo.

TL;DR:

  • É preciso ter clareza sobre sua categoria. Temos um espaço limitado para nossas prateleiras mentais e dependemos do um agrupamento de informações para sintetizá-las;
  • O objetivo final é se tornar o rei ou rainha da categoria. Estes, em média, capturam 76% de valor da categoria em questão;
  • O primeiro passo, é ter um hiperfoco de produto, perfil de cliente, canal de aquisição e distribuição aliado a um posicionamento claro;
  • Posicionamento é parte "market-fit" do Product-Market-Fit e significa fazer a pessoa certa considerar o produto no momento certo e no lugar certo;
  • A chave para um bom posicionamento é encontrar uma mensagem distintiva, memorável e que explicita qual dor do potencial cliente é resolvida.

Mesmo sabendo que sua empresa é tech e nunca estaria num supermercado, é uma analogia que ajuda a ilustrar o ponto. É impressionante que um ser humano entre num supermercado com mais de 20.000 produtos disponíveis e consiga analisar suas compras, tomar decisões e sair de lá em tempo de seguir vivendo sua vida. Como isso acontece? A verdade é que a gente não analisa todos os produtos do supermercado. E a gente faz isso sem nem perceber.

Alguns sinais orientam nosso processo. O primeiro é a categoria do que procuramos e o segundo são as marcas que consideramos. Sabemos com uma certa segurança, por dedução, que se procuramos um shampoo e vemos um sabonete, provavelmente o encontraria por ali e sabemos quais deles estamos dispostos a comprar.

Descartes, filósofo francês do século 17, nomeou o nosso processo de categorização mental como método cartesiano. É a forma como, racionalmente, deduzimos e agrupamos diferentes itens e a verdade é que dependemos dele para assimilar nosso entendimento de mundo. Principalmente porque nos ajuda a classificar e agrupar diferentes itens em “caixas” mais amplas e reconhecer qual o padrão entre eles, simplificando-os em nossa mente.

O mesmo ocorre nas compras B2B e com comunicação online. Nosso cérebro não processa as milhares de comunicações às quais somos expostos diariamente. E, quando precisamos realizar uma compra, já sabemos por qual "prateleira" procurar.

A diferença é que a prateleira virtual é 100x maior do que nos supermercados. Para que o potencial cliente repare em você, ele precisa entender a qual categoria você pertence, identificar sua marca, e qual é o diferencial do seu produto. Só assim é possível se encaixar no stack do seu cliente ideal, e é o que fará com que o mesmo te escolha dentre outras dezenas de opções.

Quando seu posicionamento não é bem entendido pelo consumidor, você automaticamente passa para a categoria dos 19.985 produtos que ele não reparou quando entrou no mercado, ao invés dos 15 que ele olhou para escolher o shampoo e sabão que levou pra casa.

Um bom posicionamento cria disponibilidade mental, elemento essencial da distribuição dos produtos, tão importante quanto a disponibilidade "física". Ou seja, é preciso combinar duas disponibilidades: estar no lugar certo na hora certa, e ser percebido.

Tão importante quanto escolher uma prateleira e ter clareza do que é o produto, é construir os elementos que fazem o consumidor conectar esse posicionamento com uma dor pessoal à sua capacidade de resolvê-la. Durante a busca por PMF essa é a principal função da sua marca.

Quando estiver fazendo seu posicionamento, tenha certeza de que:

  • Há uma categoria bem definida – o cliente entende a situação de uso e o motivo de usar o produto
  • Há uma dor resolvida – existe uma função ou proposta de valor no uso do produto
  • Sua marca é distintiva – você tem elementos de comunicação que são únicos e reconhecíveis e podem ser associados a sua empresa
  • Seu posicionamento ou comunicação são memoráveis – esses elementos únicos duram na memória do consumidor mais do que o tempo de uma oferta de preço

Não ter um posicionamento é como se seu cliente tivesse ido ao supermercado mas não tivesse te encontrado na gôndola.

“Te conheço de onde?”

A luta dos insurgentes contra os incumbentes se divide em duas grandes frentes de ataque. Enfrentá-los onde eles estão (categorias existentes) oferecendo um produto 10x melhor ou, criar uma nova categoria que redefine o status quo de alguma indústria (e que também tenha uma oferta 10x).

Investidores procuram empresas que podem se tornar o rei ou rainha da categoria. Estes capturam, em média, 76% do valor de mercado (da categoria), mas para que isso aconteça, antes de se tornar um transatlântico, é necessário ser um pirata dos bons.

Diferente de investidores, que buscam grandes categorias já na largada, consumidores tendem a ter menos habilidade de visão de futuro e costumam ser criaturas de hábitos. Então, como você vai se tornar o rei ou rainha da categoria se seus consumidores não querem mudar seus hábitos e nem conhecem sua marca?

O primeiro passo rumo à conquista do universo, é o foco hiper-nichado de entrada de produto e a segmentação de perfil de cliente permitindo a adoção de early adopters. Você precisa ser percebido pelo consumidor como pertencente a uma categoria “familiar” e se posicionar de forma que o mesmo tenha confiança que a solução resolve seu problema e melhor que os seus concorrentes. Alguns exemplos:

  • O Spotify se posicionava como rádio online, mesmo sem utilizar ondas de rádio, o posicionamento ajuda tanto ouvintes quanto anunciantes a considerarem a marca no momento de consumo e deixa a proposta de valor clara.
  • A Salesforce se posicionava pelo fim do software on-premise como forma de mostrar que era um software diferente, com custos iniciais menores acessado pela nuvem sem necessidade de instalação.
  • A Zee.Dog flertava no território da moda com as estampas, collabs e ênfase na qualidade dos produtos. Também tinham o mantra de "conectar cachorros e humanos”, o que distanciava a marca dos produtos de pet shop e aumentava a disposição a pagar.

Porém, permanecer na mesma categoria ao amadurecer, é o que limita o potencial da companhia. Não importa se você é a família real inteira da categoria, se ela for pequena, é pouco provável que verá o nascimento de uma empresa realmente grande. Pense principalmente na opcionalidade que o seu produto de entrada te dará para o segundo ato, afinal, empresas incríveis tendem a ser multiproduto.

Para agradar a gregos e troianos é importante começar pequeno mas ter uma visão de expansão, ou, do segundo ato claro, seja de categoria ou tipos de clientes (mesmo que na prática tome outros caminhos). O investidor precisa enxergar um caminho claro para os $100M de faturamento no que está sendo construído. Alguns exemplos:

  • A RD Station empresa começou com o foco em email marketing, e expandiu, ~6 anos depois para a categoria de CRM, com um mercado endereçável 70x maior.
  • A Sallve começou como uma marca focada em cosméticos somente de marcas próprias para virar uma house of brands, expandindo não só na categoria de produtos mas também a diferentes perfis de clientes.

Portanto, comece pequeno com um hiperfoco mas lembre, sua categoria é o seu maior fator limitante e por isso a relevância de tamanho do mercado (TAM) e a velocidade de crescimento do mesmo.

É importante lembrar

Você como founder precisa se preocupar com a sua prateleira ideal (categoria) e como o cliente te escolhe (posicionamento) porque ele é essencial para seu PMF;

Sua categoria provavelmente será menor do que seu TAM potencial futuro e ela deve expandir com o tempo. Por hora, preocupe-se em:

  1. Encontrar seu 1o perfil de cliente ideal, para seu 1o produto, 1a fonte geradora de leads e o 1o canal de distribuição.
  2. Ter uma mensagem clara, associada a sua marca, reconhecível pelo seu consumidor e atrelada a solução da dor que você propõe (item 1 dá um bom norte:)
  3. Se preocupe menos com elementos de mais longo prazo da marca, e mais com elementos de curto prazo: ter um conceito forte, ter elementos reconhecíveis, comunicar de forma que fique na memória do consumidor.

E aí, te encontramos em qual prateleira?

Na parte 2 desta série, compartilharemos frameworks e aprofundaremos em um exemplo prático de como posicionamento é algo vivo e em constante evolução.

Vitor Pajaro

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Vitor Pajaro

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